Programa Rádio no Blog – Especial Legião Urbana

Por Sergio Batisteli – direto da redação

Confira o nosso programa Rádio no Blog de número 2.

Nesta edição vamos falar da banda mais cultuada de Brasília até hoje, a Legião Urbana.

Aperte o play e divirta-se com o programa sobre o primeiro disco da carreira da Legião, “Legião Urbana”.

Podcast publicado na Revista Ambrosia
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Por que falar de música?

Por Sergio Batisteli – direto da redação

A música talvez seja a manifestação cultural que consegue atingir o maior número de pessoas em menor espaço de tempo.
A música faz parte da memória social de um povo.
A música é a parte interna do homem e expressa o mundo interno do indivíduo.
A música é o desenvolvimento humano.
A música pode ser considerada uma linguagem sem referente imediato. Nessa medida, ela refere-se a ela mesma, à sua maneira de ser, de erigir-se em um sistema autônomo, com uma dialética própria.

MANISFESTA
UNIVERSAL
SOCIALIZA
INDIVÍDUO
COMUNICA
ALMA

Para que ela serve?
Por que ela existe?

Porque a música pode louvar a Deus, criando uma atmosfera, um “clima” através de um culto religioso. Há uma música certa para cada momento do culto: momento de alegria, exaltação, tristeza etc.
Os cantores se exprimem, falam de si mesmos, se realizam em suas canções. Mas não só eles; a “vontade de cantar” (Benatto, Sono sole canzonette) está em todo o mundo, aparece em qualquer momento. É a vontade de desafogar, de exprimir o que se tem dentro: a alegria do coração, os sofrimentos da alma, a raiva no corpo ou algo que não se sabe bem o que é.
Também no ato de tocar há expressão. E são expressivos principalmente aqueles que improvisam: eles inventam sua música, eles a tocam e, às vezes, só eles mesmos a ouvem – os “tocadores”. São os músicos de jazz, ou de rock, e também românticos como Shumann e Shubert. As crianças e os jovens também, quando descarregam sua emotividade e fantasia nos instrumentos, tornando expressivos os objetos sonoros.

O candidato ao prêmio Nobel da Paz em 2005, ativista político e vocalista da banda de rock irlandesa, U2 – Bono Vox foi perguntado em uma entrevista.
Uma música pode fazer diferença no mundo?
Bono declarou: “Músicas podem mudar o mundo”. Explica esse processo usando a subjetividade através da legitimação interior: “Com certeza o meu mundo. Elas podem mudar seu estado de espírito, a temperatura de um ambiente. Músicas são incríveis. Não são como filmes que se assiste uma ou duas vezes. Elas se tornam parte de sua vida. São mais como cheiros. Há alguns cheiros ruins nossos por aí, mas quando acertamos é como um perfume. A liberdade tem perfume e é como o cheiro da cabeça de um recém-nascido”, disse Bono. Bem, aí fica a deixa que se para o “eu” interior a música pode ser transformadora, ela também pode ser na busca da legitimação do “eu” exterior.

Praticando uma análise sociológica:

A música também serve para fazermos uma análise sociológica e compreendermos melhor nossa sociedade!
Para entendermos melhor como isso ocorre, vamos fazer um estudo sobre a música – Fábrica – da banda de Brasília, Legião Urbana.
Surgida na primeira metade da década de 80, essa banda refletia o sentimento e pensamento de uma geração pós-regime militar e censura prévia instalada no Brasil. Se expressavam de maneira social e política, engatinhavam em nosso país a possibilidade de poder comunicar- se diretamente um tema ou assunto, sem ter que recorrer ao uso de subterfúgios. Como o uso de pseudônimos e metáforas, absorvendo a liberdade de expressão, para poderem dar o seu recado.

Divulgação

– Fábrica (Renato Russo) –

Nosso dia vai chegar,
Teremos nossa vez.
Não é pedir demais:
Quero justiça,
Quero trabalhar em paz.
Não é muito o que lhe peço –
Quero trabalho honesto
Em vez de escravidão

Deve haver algum lugar
Onde o mais forte
Não consegue escravizar
Quem não tem chance.

De onde vem a indiferença
Temperada a ferro e fogo?
Quem guarda os portões da fábrica?

O céu já foi azul, mas agora é cinza
E o que era verde aqui já não existe mais.
Quem me dera acreditar
Que não acontece nada de tanto brincar como fogo.

Que venha o fogo então.

Esse ar deixou minha vista cansada,
Nada de mais.

Podemos perceber que essa canção começa com um sonho de um trabalhador (operário da fábrica): “Nosso dia vai chegar, teremos nossa vez”.

Segue com uma reflexão ou um diálogo com seu chefe, com o uso da elipse no final dos versos:
“Não é pedir demais”: … patrão
“Quero justiça
Quero trabalhar em paz
Não é muito o que peço”… patrão
“Eu quero trabalho honesto
Em vez de escravidão”
Aqui Renato Russo coloca uma situação entre o empregado e o patrão, mostra uma realidade social, pois muitas vezes os empresários mesmo pagando ao trabalhador seus direitos trabalhistas, despedem seu funcionário por ele não ter disponibilidade de fazer hora extra ou trabalhar no seu dia de folga.
Mas é claro que os empresários não admitem isso oficialmente, dizem que dispensaram o trabalhador por excesso de contingência, mas ironicamente uma semana depois está um novo trabalhador no lugar daquele que foi despedido.
Isso vem desde a Revolução Industrial e a formação das sociedades industriais capitalistas.
De qual forma?
O “operário” é a mão de obra na maior parte das vezes não qualificada.
O “patrão” em busca do lucro (luta competitiva pelos mercados)

“Deve haver algum lugar
Onde o mais forte
Não consegue escravizar
Quem não tem chance”
Pergunto à vocês será que esse lugar existe?
Essa afirmação é utópica dentro de uma realidade capitalista, ela reflete a esperança e o sentimento popular.
Mas o homem é fruto do meio do capital!

“De onde vem a indiferença”…sociedade?
“Temperada a ferro e fogo?
Quem guarda os portões da fábrica?”
O autor usa de dois elementos literalmente usados em uma usina siderúrgica – ferro e fogo.
Essa indiferença pode vir da própria classe trabalhadora, pois o processo de mudança social só pode ser formado com ação coletiva de uma determinada classe social conflitando com os interesses de outra, gerando a luta entre classes culminado uma revolução.
Por ser um processo extremamente complexo e transformador nossa sociedade muitas vezes vira as costas e fica indiferente como se isso não fosse uma questão dela própria.
Quem guarda os portões da fábrica?
Ou seja, quem cuida de tudo isso?
A quem pertence esse imenso, rico e frio império?

“O céu já foi azul, mas agora é cinza
E o que era verde aqui já não existe mais.”
Com sua crítica social o poeta também deixa claro o preço do progresso.
A urbanização e industrialização trouxeram a modernização, gerando o arranco tecnológico. Mas trouxe também a poluição, desmatamento e a destruição gradativa do meio ambiente.

“Quem me dera acreditar
Que não acontece nada de tanto brincar com fogo
Que venha o fogo então”
Nesse momento (o operário) da fábrica preferia estar longe de tudo isso, mas logo a realidade bate em sua porta e lhe restando apenas uma atitude conformista aceita a sua realidade social.”Que venha o fogo então”

“Esse ar deixou minha vista cansada, nada de mais”…
O (operário) futuramente ter uma doença provavelmente é um pai de família, tem contas para pagar, como aluguel de sua casa, prestação de automóvel, ajuda nas despesas do lar junto com sua esposa precisa pagar o colégio de seus filhos…
Não será, mesmo sem saber, um “ar” tóxico dentro da usina onde ela trabalha que vai desanima-lo ou afasta-lo se de seu serviço e da linha de frente da produção industrial. Porque ele precisa desse emprego e o desemprego assusta a todos.
E depois?
Se ele tiver um câncer?
Bem aí o patrão pode pagar as despesas com médicos e hospitais, pagar uma pensão para a família e estamos todos resolvidos.
Afinal o (operário) foi um herói e contribuiu não só para o lucro da empresa onde trabalhou, mas também para a economia do país.

Artigo publicado no site Jovemcracia